A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita. Mário Quintana

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Luis Fernando Veríssimo


Dar é dar.
Fazer amor é lindo,
é sublime,
é encantador,
é esplêndido,
mas dar é bom pra cacete.

Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca,
te chama de nomes que eu não escreveria,
não te vira com delicadeza,
não sente vergonha de ritmos animais.

Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar,
sem querer apresentar pra mãe,
sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.

Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral,
te amolece o gingado, te molha o instinto.

Dar porque a vida de uma publicitária em começo de carreira é estressante, e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para as mais desavisadas, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazia.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar,
para apresentar pra mãe,
pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que cê acha amor?".
Dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda,
muito mais do que
qualquer coisa,
uma chance ao amor, esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa,
cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar
o suficiente pra nem perceber as catarradas na rua.

Se você for chata, suas amigas perdoam.
Se você for brava, suas amigas perdoam.
Até se você for magra, as suas amigas perdoam.
Mas... experimente ser amada."


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Agora é nossa vez...


O Brasil é a bola da vez, 20 anos de moeda estável, com um mercado emergente, aumento do poder de compra da população, troca de governo, bolha da construção civil, 17 montadoras de automóveis operando em territorio nacional, marketing externo em relação à Vale e à Petobrás (reservas do pré-sal), muita área que poderá ser explorada no futuro para produção do setor primário, certeza de investimento governamental em infraestrutura pelos próximos 10 anos (portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, estaleiros, silos, etc...)... e por aí vai. Além de tudo isso virá a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Pensem comigo: você é um extrangeiro com dinheiro disponível e está pensando em investir em um país emergente, com possibilidade de altos rendimentos pelo simples fato de ter os juros mais altos do mundo e que sediará eventos de repercussão mundial nos próximos 4 a 6 anos... onde você colocaria os seus dólares? Biiiiiiiiingo!

Dessa forma o governo não terá outra saída a não ser aprovar a refoma tributária e diminuir os nossos impostos para tentar estimular a produção interna, o que prá nós seria uma maravilha! Além disso, terá que ofertar crédito mais barato e diminuir os juros... mas será? Claro! Com o real valorizado aumentam as importações e caem as exportações. Com isso a concorrência interna fica exacerbada, os preços dos produtos tendem a cair, e viver, teoricamente, se tornaria mais barato. Então só coisas boas? Não, calma, e quem tem negócio próprio? Bem, apertem os cintos, está na mão de vocês pressionar o governo para baixar a taxa de juros e rever os impostos, pois, do contrário, teremos uma quebradeira nacional! Por outro lado, caso tenham êxito em tal empreitada, o cenário fica ainda melhor! A grande questão é: mas se baixar impostos e rever os juros, como o governo pagará a dívida interna? E a pergunta que não quer calar: "...como ficará o Ceará?"

Bem, ironias a parte, queria deixar registrado que fico muito animado quando penso em tudo isso! Sonho? Otimismo!? Talvez, ainda mais que quem vos fala é um veterinário que gosta de finanças e não um grande economista que analisa o mercado o dia todo...  mas o fato é que o Dr. Manteeeeega "se derrete" há meses tentando fazer alguma coisa e o dólar despencou de U$1,89 para U$1,68 nos últimos três meses...

Ufa, estou mais aliviado, precisava desabafar.... hehe!

Bem, a questão está em pauta, alguém se manifesta?!

Estamos na torcida e que Deus ilumine a "Presidenta"!

Passeando pela internet encontrei esse texto do Tiago Dutra (Pimenta com Leite) adorei, que bons ventos nos cerquem...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PASSEIO SOCRÁTICO - Frei Betto

"Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

Encontrei esse texto em um blog que leio e adoro, http://dinorahcomaganofim.blogspot.com fica a dica, muito divertido e sempre inteligente. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Agora eu quero asas.

Não há hoje nessa cidade alguém mais chapada que eu, dias atrás fui atropelada no estacionamento do meu prédio, quando saía com minha moto, um rapaz chegava de carro pra pegar a namorada e esquina você sabe como é, nós só não batemos de frente por que eu joguei a moto pro canto, o que não evitou que o carro acertasse minha perna, resultado pra mim: uma perna ralada e toda roxa, o pé machucado e inchado, um leve gasto com setas e pedais novos, um atestado de cinco dias, muito tempo de repouso pensando na saúde, no amor, nas contas, no trabalho, na faculdade enfim na vida; Resultado pra ele: a lateral dianteira do carro com um leve amassado.
Hoje, já quase sem vestígios dos ferimentos, devido a minha indignação com o trânsito por aqui, resolvi que como diria o grande Raul “eu também vou reclamar“.
Impressiona-me a falta de noção desses motoristas, se é que podemos chamar assim, acho que os principais absurdos cometidos no transito de cidade pequena são, as setas, ah essas setas, tenho certeza, foi ensinado no curso de direção que as tais setas são itens opcionais, meramente alegóricos, pois sempre que tem quinze carros atrás, o da frente faz questão de simplesmente virar sem nenhum comunicado prévio. Outro grande problema é a faixa de pedestre, os motoristas devem competir pra ver quem para mais perfeitamente possível “sobre” ela, nunca, em meus dias de pedestre, consegui atravessar sem ter que desviar de alguns carros. Temos também o PARE, por muitos interpretado como “vai que dá”, o pare é pra deixar bem claro de quem é a vez, se ta muito longe tudo bem, mas se eu tiver que frear por causa do desgraçado, ele vai tomar buzinada, tem também gente que entra na contramão e quando percebe o erro, sai de ré a milhão (uma vadia de saveiro preta fez isso e quase me usou de graxa) na hora, o susto e a adrenalina de quase morrer é tão alta, que mesmo eu,  incapaz de matar qualquer coisa que respire, queria ter uma Winchester 22.
Agora, os idosos no trânsito, esses merecem um parágrafo à parte, eu gostaria com todo o respeito, que fossem caçadas as cartas dos mais tiozinhos, eles conseguem andar a 20 km numa pista que tem limite mínimo de 50, passeiam com as banheiras compradas 0km, acham que são os donos da rua, só porque nasceram antes mesmo da invenção do carro.
Já me disseram que aqui na Aldeia o trânsito é tranqüilo, que não tem congestionamento, que não tem acidente grave, e eu respondi mas tem filho da puta, tem gente que se odeia fica até altas horas em buteco e sai dirigindo bêbado pela rua, tem gente que não tem capacidade de tirar carta mas dinheiro pra comprar carro, se um instruído já faz besteiras imagine alguém sem carta, só pode dar merda.
A fiscalização é torpe e corruptível, nunca vi ninguém ir preso por matar alguém no trânsito e o inconsolável é saber que certo ou errado, em qualquer acidente quem vai pro hospital e raramente sai sem seqüelas é o pedestre, ciclista e o motoqueiro.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tudo dependende da sua escolha!!!



Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:
- Eu, hein?... nem morta

(Luiz Fernando Veríssimo)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

É preciso saber viver...

Após muito tempo sem notícias encontrei "A. C." uma antiga amiga, conversamos um pouco e entre uma cerveja e outra ela me contou que está muito bem, largou do namorado, está saindo muito mais, deixou o cabelo crescer, perdeu uns quilos e ta adorando, ao perguntar o motivo de tanta mudança a resposta foi quase uma dica, ela disse:

O motivo é "homem que dá trabalho" e explicou, fiquei tanto tempo preocupada em saber onde, com quem e porquê ele estava que esqueci do meu cabelo e mal comia. Não valeu a pena, ele não prestava mesmo, resolvi largar ele, tratei o cabelo, comprei roupas novas, estou solteira e linda.

Conclusão:
Sempre podemos tirar algo de bom das infelicidades da vida, onde a maioria só enxergaria a fatalidade do namoro terminado e tempo perdido, A.C. viu além, o coração partido, ela colou com mechas californianas, escova progressiva e hoje, se não chover, ela vai arrasar na pequena Aldeia.

Um beijo amiga, tava com saudade.

E por enquanto, é isso!!!  

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A fada das fronhas (Beto Canales)

Se me perguntarem uma coisa que tem tudo para dar errado, eu respondo sem nenhuma dúvida: casamento. Talvez por isso em muitas vezes dá mesmo e em outras tantas fica rancor e ódio onde um dia já teve (vou ter que rimar, não adianta) amor e respeito. Essa relação é algo um tanto quanto insólita, um pouco sonhadora, irreal até. Como conceber que uma pessoa conhecida em uma balada, cheia de álcool na cabeça, em uma noite dedicada aos prazeres carnais, por exemplo, torne-se mãe dos seus filhos? Pois acontece. Ou que aquela colega de trabalho, com a (pode dizer bunda? - não, melhor não), com as nádegas que fazem todos parar, torne-se a companheira de noites insones cuidando do filho febril? Poxa, bun... nádegas não fazem isso. Eu até escreveria aquela máxima que casamento começa ruim, mas depois vai piorando, piorando, mas não vou fazer isso, porque não é verdade. Tem também o lado bom. O lado da descoberta. Um bom casamento torna, em algumas situações, o marido (é o lado que defendo, ou melhor, que represento - sai para lá ato falho) um verdadeiro Indiana, um paleontólogo, um aventureiro descobridor nato.
Aos fatos: minha dedicada e feliz esposa rompeu os ligamentos do pé. O resultado disso é algumas semanas engessada e um par de muletas. Claro que, como um dos melhores representantes de bom marido que conheço, comecei a "ajudar" nas tarefas de casa. Sou uma "Dinalva" perfeita. Faço todo o serviço incansavelmente e com muito esmero. Por sinal, que servicinho mais fácil o doméstico. Com quatro neurônios é possível fazer tudo em poucos minutos, escutando música e ajudando o filho nos temas escolares. Mas isso é outro assunto. O assunto mesmo foi a descoberta. Numa bela noite, ao deitar, reclamei da fronha suja. Falei com a delicadeza pertinente aos donos de casa:

- Esta fronha está suja! 
Ela respondeu (até agora não entendo a razão) com alguma ironia:

- Você acha que as fronhas trocam-se sozinhas? - Eu, cheio de boas intenções, sentimentos nobres e com expressão de espanto, afirmei:

- Claro que sim. Oras, que pergunta!

Falei sério. Na verdade, eu nunca havia pensado no assunto mas, era evidente, as fronhas devem ter vida própria e, quando sujas, vão até a lavanderia e uma limpa toma seu lugar. Ou, acho até uma hipótese mais provável, tem uma fada, a meiga Fada das Fronhas, que quando as pessoas saem de casa elas vão lá e fazem o serviço sujo. Isso era evidente e tratava-se de uma questão de lógica: se eu durmo todas as noites e acordo todas as manhãs, há quase cinco décadas, sempre com fronhas limpas e nunca fiz isso, é óbvio que existe uma fada que faz. A felizarda companheira, com toda a paciência do mundo, explicou - e eu com toda minha capacidade intelectual compreendi - que as fronhas eram trocadas por humanos. No nosso caso, ela. Fiquei chocado. Quase chorei. Mas resisti pela emoção da descoberta. Que coisa fantástica. Uma verdade, mesmo que perversa, quando vem à tona, é um momento mágico. Entre minhas caras de espanto ela disse:

- Vá até o roupeiro, na prateleira mais acima, à esquerda, e pega duas para fazermos a troca.
Foi demais para mim. "O quê?!", esbravejei. A fase "Descobertas novas em sua vida" continuava a mil.

- Além de tudo existe um local para guardar fronhas?

Não esperei a resposta porque fui correndo olhar. Desta vez eu chorei. Quando vi aqueles panos todos, dobradinhos, um em cima do outro, não resisti. Que emoção. Recuperei os sentidos e disse aos prantos:
- Só falta agora tu me dizer que a descarga do banheiro não é automática...



(Colocando me no lugal da esposa dele, só me vem à cabeça as palavras: A culpa é da sua mãe)